sexta-feira, março 7

O que pensam que é o Amor???

- Perguntem às crianças, em todo o mundo, que oferecem os seus desenhos como se fossem tesouros e as suas pedrinhas como se fossem jóias. às meninas que, pacientemente, guardam durante os passeios, uma florinha já murcha para dar à mãe.

- Ao sem-abrigo que, deixa de comer para alimentar o cão que o acompanha


- Ao viúvo que envelheceu com a sua amada.






(...) Ter alguém que saiba o pin do nosso cartão multibanco é um descanso na alma. Essa tranquilidade faz falta, abranda a velocidade do tempo para o nosso ritmo pessoal. É incompreensível que ninguém a cante.

As canções e os poemas ignoram tanto acerca do amor. Como se explica, por exemplo, que não falem dos serões a ver televisão no sofá? Não há explicação. O amor também é estar no sofá, tapados pela mesma manta, a ver séries más ou filmes maus. Talvez chova lá fora, talvez faça frio, não importa. O sofá é quentinho e fica mesmo à frente de um aparelho onde passam as séries e os filmes mais parvos que já se fizeram. Daqui a pouco começam as televendas, também servem.

Havemos de engordar juntos (...).

Amor burguês de José Luís Peixoto





quinta-feira, março 6

escrevo, logo existes!


Quero retirar-te do meu poema
antes que morra,
                                     sufocado na desilusão de ti!
pequenas inspirações, entrecortadas,
a cautela de sonhá-lo nu de ti!

Fecho os olhos e experimento.

Dele expulso o teu olhar,
desalojo o teu nome.

Vou mais além
rasgo o verso dos teus pés, nus pela casa.
Alheio o teu cheiro, os teus cuidados.
E ausento as tuas mãos, raras em mim.

Um terror de mim se apodera!
E, se afinal, já não vive o meu poema?
Ausentando-te dele, morreste aí,
no meio desse chão sem texto,
no meio desse texto sem tema.

e apagou-se o meu poema, numa folha vazia, sem texto.

Agiganta-se o meu pânico!
E, se não te escrevo mais
por te querer varrer do meu poema?

Reajo!
Folha de papel e lápis numa respiração erótica, contigo.
Onomatopeias ofegantes e adjectivos intensos,

Renasce o primeiro verso!
Substantivos esquecidos e verbos há muito calados
Lápis e folha em movimentos frenéticos,
êxtase de emoção e juras eternas em superlativos absolutos!

Renasce o poema!






quarta-feira, maio 10

Medos e memórias

minto
no silêncio transparente
das palavras que guardo em mim

sinto
vislumbres nús de ti
em gestos habituais, sinceros

os teus lábios entreabertos
[porta acanhada...
horizontes do que sentes...
perco no que me dizes
o tamanho das palavras
o caminho estreita entre nós
sem lugar para o lugar
sinto o sabor da fruta
o teu sabor
[memórias...
um aroma forte de mel
já não é fruta
é dor
já não é mel
é fel

terça-feira, abril 18

nunca foram meus os olhos
que com os meus se cruzaram
nem meus foram os lábios
que, sedentos nos meus pousaram

nunca foram meus os braços
que o meu corpo aconchegaram
nem meus foram os dedos
que com os meus se entrelaçaram

sobra agora o amor que canto
em poemas de
dor
desespero e
pranto
a esperança é quimera
sombras, sonhos, desencantos
[brisa...
silêncio...]

Como se fosse preciso...

Como se fosse preciso
para guardar de ti,
o teu riso
levar de ti,
um pertence...
carrego comigo
o teu gesto
levo gravado
o teu rosto
escrevo, sublinho
o teu nome
como se o tempo nos afastasse
como se fosse possível...
(encho de nada o teu espaço)
como se fosse preciso...

sexta-feira, março 31

Filho

Habitas o riso e a luz
a alegria e a paz
na mesma atitude
és baga de mel
constelação de flores
no mesmo lugar
és novembro e agosto
sem pressa nem vagar
és pássaro livre, raíz de carvalho
perfume e cor, frescura de orvalho
miosótis colorido, arco-íris perfumado
condensação perfeita num sorriso ensolarado
és sílaba, verso, grito de amor
és tudo, filho
no mesmo poema

Sem Ti

A palavra que não escrevi
O gesto que guardei
O calor que apaguei
Do abraço que fugi

Tudo mora agora
em mim
Tudo sobra agora
sem ti

sexta-feira, março 24

BIPOLARIDADE

Era(s) o riso mais riso
que eu conhecia
Ria(s), sorria(s)
quando entardecia
Ria(s) chorando e
Chorando sorria(s)
Era o riso mais riso
que eu conhecia
[que eu via sorrindo
e me entristecia]
...
Era(s) o riso mais riso
que me conhecia
Ria(s) falando e
Escutando sorria(s)
Os que não riam, choravam
depois já sorriam
malícia já viam
e sem riso, sorria(s)
mas entristecia(s)
Esboços fazia(s) enquanto sorria(s)
Sorria(s) escrevendo enquanto esquecia(s)
O que rindo e sorrindo
Não adormecia(s)
Passava-se o tempo e
O riso era riso
[ esquecer não esquecia(s)
E o riso era riso
Não era Alegria
Era o riso mais triste que eu conhecia

Maria

Semeavas a alegria
entre risos e flores

Habitavas a luz
quando a noite se impunha e
as trevas, velozes
Ganhavam terreno
em pétalas caídas
Clamando sorrisos
entre as flores e abraços
[teus]
Abrindo caminho
um manto de silêncio povoava assim...

sexta-feira, março 17

Para a Maria

os versos mais belos
apagam-se cedo
ainda na mão
apaga-os o medo
sempre em segredo
...morrem em vão
nem seca a tinta
dos versos ardentes
mas deixa sementes
caídas no chão...
Pobre trigo em farinha
que não chegou a ser pão...
Escuto
entre os versos que risquei,
rascunhos de um poema amarelecido
sussurros...
esboços de um sorriso
esquecido
sombras de um rosto
vagueando, ocultas
no vento.
vertigem...